domingo, 10 de outubro de 2010

Saúde pública ou conveniência?

Vamos ser do contra um pouquinho, Jeanne?


Bem antes dessa coisa toda da campanha que deveria ser política começar a ser religiosa e o tema aborto ser lembrado pelas pessoas, eu já andava discutindo sobre isso. Com o LP e com os meus botões.

Até um tempo atrás (um ano talvez) eu não tinha uma posição. Por um lado achava errado mas talvez por ser menina eu achava que devia ter o direito de escolher.
Pois bem: Pensei, analisei algumas questões que me causavam dúvida, e principalmente pensei nas circunstâncias em que normalmente acontecem essas situações de "necessidade de escolha".
E foi aí que formei minha opinião: Não acho que aborto deva deixar de ser crime.


Ah, mas vc não acha uma temeridade não ter controle ou liberdade de escolha sobre o seu próprio corpo?
Sobre o meu próprio corpo eu já tenho! Eu não acho certo ter liberdade de escolha sobre o corpo de OUTRO ser humano - no caso, o de um filho meu.

Ah, mas então vc acredita nesses papos de pecado, inferno, que o bebê tem alma a partir do momento em que é fecundado?
DE JEITO NENHUM! Ultimamente ando cada vez mais "seduzida" pelas ideias ateístas e humanistas, então esse tipo de argumento é o primeiro que eu descarto.

Mas se vc não acredita que o feto tem alma, pq faz questão de preservar a vida de quem ainda é pequeno demais pra sentir dor ou ter ligação afetiva?
Eu tenho 32 anos. 32 anos se vc contar a partir do momento em que eu nasci. Se contarmos todo o processo de gestação, formação e desenvolvimento do meu corpo, poderíamos botar aí mais 9 meses nas contas, certo? (Ai, caraca, me senti ainda mais velha depois dessa conta!)
Consideremos que eu seja assaltada e tome um tiro no meio da testa hoje.
Ou semana passada. Ou quando eu era adolescente. Ou ainda que eu tenha sido atropelada por um motorista bêbado aos 4 anos e tivesse morrido.
Qual a diferença entre todas essas possibilidades? A única variável aqui é o tempo. O momento da minha existência em que o meu direito à vida foi ignorado e eu morri.
Não consigo entender porque esse direito deve existir só a partir do momento em que eu saí de dentro do corpo da minha mãe. Ou quando meu corpo tomou a forma humanóide e eu ganhei uma "carinha".
Não é compreensível pra mim um indivíduo não ter direito à vida desde que a concepção acontece e as células começam a se multiplicar. E se existe alguma sombra de dúvida na minha convicção com relação a esse argumento, ela está diretamente ligada ao exato momento em que esse amontoado de células desenvolve um sistema nervoso. E apesar de não manjar picas de biologia, eu sei que mesmo isso acontece bem no comecinho da gravidez. E aí entra o argumento mais adorado:


Mas Jeanne, sua louca, e o problema da saúde pública? E as crianças de rua, e essas adolescentes pobres, sem instrução lá na periferia morrendo na mão de açougueiros que fazem aborto clandestino? Vc não tem dó delas?
NÃO, não tenho! A síntese da minha opinião com relação ao aborto é a de que não se deve premiar irresponsabilidade com conveniência!
Porquê?
Você não pode ter filhos por que não tem dinheiro, tem 14 anos, não tem tempo de estudar, mora com sua mãe, o padrasto e 8 irmãos num quarto e salasustentado pelo Bolsa Família? Então não trepe!
Ah, mas perai, eu quero transar!!
Se proteja! Existe DIU, camisinha, tabelinha, coito interrompido, pílula do dia seguinte... O que não falta é opção!

Mas camisinha aperta!
Querida, perto de todas as outras coisas que vc pode conseguir transando sem camisinha, vai por mim: filho é um presente!

Tá, mas a camisinha estourou! Eu falei que era apertada!
Pílula do dia seguinte, manja? Custa entre 15 e 25 reais. Se vc rachar com seu gato não sai caro! BEM mais barato do que clínica clandestina de aborto ou um daqueles comprimidos pra úlcera que não-se-pode-dizer-o-nome-mas-que-todo-mundo-conhece-alguém-que-conhece-um-cara-que-vende!

Pílula do dia seguinte eu não sei se o Estado fornece, não parei pra pesquisar. Mas camisinha é coisa que vc pega aos lotes em posto de saúde do Estado. E se não tiver postinho por perto, na farmácia do Seu Zé vende por merrequinha. Então, voltando à miinha síntese: a cidadã tem essa quantidade de opções - inclusive sem gastar um único centavo - de transar sem engravidar, e ela resolve ignorar essas opções, faz a coisa de qualquer jeito aí engravida e quer ganhar o que de presente? A conveniência de não ter um filho que ela teve N opções pra evitar!
Quer ganhar a conveniência de matar um indivíduo que não tem a chance de escolher, se defender ou expressar sua opinião. Simples assim: não evitei, mas não quero. Arranca aí que essa espinha vai me deixar feia pra festa de sábado!

Já vi algumas pessoas entrando na questão de estupro, risco de vida à mãe... Nesses casos o aborto JÁ é legalizado e eu concordo fervorosamente.

Como o caso é de saúde pública, deve-se cuidar melhor da educação dessas meninas e encontrar alternativas pra gravidez indesejada. Adoção, por exemplo!
Pergunta pra uma dessas mulheres na fila de espera da adoção (sim, existe fila de espera pra pais tbm! E por sinal é maior do que a de crianças.), essas pessoas que só querem adotar se for bebê pequeno, se eles gostariam de adotar algum desses bebês que foram mortos (muitas vezes bem grandinhos e com todo o sisteminha nervoso funcionando) ao invés de ficar anos esperando, muitas vezes gastando rios de dinheiro com tratamentos de fertilidade.

Nunca fui santa e também nunca fui rica. E nem por isso saí engravidando de cada namorado que arrumava. Então, meu amor, ser pobre e morar na periferia não é desculpa. Vida sexual ativa não precisa resultar em uma gravidez por ano. Nem em aborto!



As opiniões sobre esse assunto tendem a ser muito extremas: Ou vc é pró-escolha, cult, politizada e laicista ou você é pró-vida e crente, antiquada e - como eu vi nos twitters da vida: "nunca foi estuprada, pq se fosse, seria a favor do aborto".


Não ligo pros argumentos que os religiosos pregam e to cagando pra turma cult que acha legal "descriminalizar" qualquer coisa que possa... A maconha, o aborto, a eutanásia...

Mas bem antes da "questão de foro íntimo" tem uma porção de atitudes que poderiam SIM ser tomadas pra evitar esse problema, não?

E aí repito: Irreponsabilidade NÃO deve ser premiada com conveniência! Nos outros casos, a lei já prevê o que pode ser feito.



Pronto. Dei minha cara pra bater!

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